Mestre Laércio

Mestre Laércio descobriu a capoeira no mato. Em 1976 ele, com 10 anos de idade, costumava brincar de indio e caçar passarinho, perto de onde ele morava, na Fazenda Grande do Retiro, dentro do brejo. Foi numa dessas brincadeiras que seu amigo Samuel lhe mostrou o caminho para chegar a academia de Mestre Caiçara no bairro de São Caetano.

Laércio ja conhecia a capoeira, levado pelo seu pai, Gilberto Domingos Borges, que é natural de Santo Amaro. Ele não praticava a arte, mas se divertia muito em observar as rodas e a malicia dos capoeiristas, e as vezes levava Laércio para ver.

Apesar diso Seu Gilberto não queria ver o seu filho envolvido com a malandragem da capoeira e vendo o crescente interesse deste, tentou dissuadi-lo de praticar capoeira matriculando-o numa academia de Karate.

Então Laércio aproveitava a calça do kimono e ia treinar escondido na academia do Mestre Caiçara. Para chegar lá ele atravessava o mato as seis horas da tarde, as vezes tendo que voltar ja de noite e fingir que esteve brincando com os amigos pela rua onde residía.

Assim começa o intenso contato de Laércio com os grandes mestres que mais contribuiram para a capoeira naquela epoca, como Mestre Caiçara, Canjiquinha, Valdemar, Curé, Fernanito, Boca Rica, Zacarias, João Grande, João Pequeno, Papo Amarelo, Bola Sete, Bóbó e outros.

Mais tarde, depois da morte de Mestre Pastinha, Laércio foi morar no bairro Quinta das Beatas, atual Cosme de Farias, onde conhece Roberval. Nesse momento Laércio estava frequentando a academia do Mestre Caiçara. Este ja não puxava mais os treinos, que eram na laje de sua casa, onde ele não podia subir, ficando essa responsabilidade para seu filho Toinho, que muitas vezes não aparecia. Assim, Laércio, que se desenvolvia rapido na capoeira, começou a puxar alguns treinos na academia do Mestre Caiçara, orientado por ele.

Laércio conheceu Roberval numa roda que acontecia na escola D. João Pedro dos Santos. Parte de uma recreação que essa escola fazia, junto com volei, futebol e outras atividades, toda sexta-feira havia a roda de capoeira frequentada por Mestre Celeste, Manoel Rezendo (aluno de Mestre Bimba), os alunos de Mestre Alfredo, entre outros.

Mais tarde, ja em 1984, numa conversa com Roberval e Cabore, resolveram fundar um grupo para resgatar, manter e preservar as raizes da Capoeira Angola. Criaram um grupo com o nome Filhos de Angola em homenagem a Mestre Pastinha, porque o consideravam como o pai da Capoeira Angola.

Os Filhos de Angola conviveram tres anos com Mestre João Pequeno, dois anos com Mestre Canjiquinha, um bom tempo com Mestre Boca Rica e tiveram a oportunidade de frequentar as aulas com Mestre João Grande aos domingos no Forte Santo Antonio, no espaço do GCAP.

Com o regresso de Mestre Moraes de Rio de Janeiro, junto com Mestre Cobra Mansa, num momento em que a Capoeira Angola estava correndo risco de extinção o Grupo Capoeira Filhos de Angola (GCFA) foi convidado atraves de Mestre Cobra Mansa para fazer parte do GCAP, num esforço comum por fortalecer a Capoeira Angola em Salvador. Com Mestre Moraes o GCFA aprendeu o valor cultural e musical das raizes da Capoeira Angola.

Passado algum tempo o GCFA sentiu necessidade de ter o seu espaço proprio e passou a dividir uma sala mo Forte Santo Antonio com Mestre Boca Rica. Eles dividiram essa sala por dois anos.

Então, continuando com o objetivo de preservação, manutenção e valorização das raizes da Capoeira Angola, Laércio começou a desenvolver um trabalho com criancas carentes na periferia de Salvador.

Fruto desse trabalho desenvolvido com Marrom no bairro de Brotas durante tre anos, surgiu o grupo Acupe, vinculado ao GCFA.

Lutando pela dignidade da Capoeira Angola Laercio e Roberval, junto com os mestres Curio, Bom Cabrito, Cabore, Baixinho, Augusto, entre outros, tiveram a ideia de fundar a ABCA – Associação Brasileira de Capoeira Angola e a Casa da Capoeira Angola em Salvador. Uma vez criada, a ABCA passou a ser coordenada por um conselho de mestres como: Curio, Gildo Alfinete, Mala, Pele da Bomba, João Pequeno, Dez de Ouro, Bom Cabrito, entre outros.

Em setembro de 1993 Laercio se muda para a Europa com o objetivo de divulgar a Capoeira Angola. No começo do seu trabalho na Europa ele fez varios workshops junto com Mestre Rogerio, Mestre Sapo e Rosalvo. Naquele momento a Capoeira Regional estava muito difundida na Europa e era necessario informar aos novos capoeiristas sobre a verdadeira capoeira, a Capoeira Angola, onde estão presentes em sua totalidade os rituais trazido pelos africanos ao Brasil.

Com o passar do tempo, vendo a força de vontade das pessoas que se interessam pela capoeira na Europa, as vezes tentando aprender sozinhas, frequentando workshops, buscando informações, indo sempre a Salvador no Brasil e etc, Laércio começou a fazer um trabalho com nucleos em diferentes paises com o objetivo de orientar o aprendizano desses capoeiristas. Assim surgiram os nucleos de GCFA na Europa, que vem florescendo desde então. Atualmente ha nucleos do GCFA na Inglaterra, Suecia, Espanha, França, Suiça entre outros, com treineis, professores formados por Laércio, que sob sia orentação, lideram esses grupos.
Laércio visita a cada grupo periodicamente e segue seu trabalho em Berlim, Alemanha, onde reside atualmente.